GUARDIÕES DA GALÁXIA
Quill, Gamora, Drax, Rocket e Groot.
Depois de um filme recordista de bilheterias, e outro de mais sucesso ainda, os Guardiões da Galáxia ganharam uma multidão de fãs. O grupo de (obscuros e anti) heróis da Marvel reúne tipos muito diferentes, que vivem aventuras recheadas de humor e ação. Já aparecem em desenhos animados, centenas de produtos e são presença garantida em outros longa-metragens, até contracenando com os Vingadores e companhia.
Ponto para os produtores da Marvel, que souberam apostar numa ‘família’ absolutamente disfuncional. Afinal, os tempos são outros. Ficou para trás aquele conceito de harmonia, cooperação e sintonia da família Robinson original, ou mesma daquela do Perdidos no Espaço, ou até dos Pioneiros. Pra quem nunca ouvir falar de nada disso, então vale um outro exemplo, muito mais recente: os Guardiões são o oposto dos Power Rangers, aquela galera ‘fofa’, amiga e cheia de bondade. Os Guardiões brigam o tempo todo, não conseguem acertar uma. Tem sempre um querendo bater no outro, e qualquer missão é feita de forma descoordenada ou desastrosa.
Você já imaginou de onde é que veio a ideia para essas histórias? Só da cabeça de um roteirista maluco? Ou será que existe alguma semelhança com as relações que estão ao nosso redor – nos grupos familiares, nos ambientes de trabalho… nas igrejas? Vale repetir a frase do parágrafo anterior: grupos que brigam o tempo todo, que não conseguem acertar uma, onde tem sempre um querendo bater no outro, e qualquer missão é feita de forma descoordenada ou desatrosa.
Definitivamente, os Guardiões da Galáxia estão lá, dentro dos templos, comunidades, congregações e paróquias. Basta olhar com atenção, para se identificar quem é quem.
O Peter Quill representa muita gente que busca uma experiência espiritual com o Pai. E o cristão pode ter, realmente, essa relação filho-Pai com o Deus criador. Nosso Senhor Deus se apresenta assim, na escritura sagrada e por meio de Jesus Cristo.
“Por acaso algum de vocês será capaz de dar uma cobra ao seu filho, quando ele pede um peixe? Ou, se o filho pedir um ovo, vai lhe dar um escorpião? Vocês, mesmo sendo maus, sabem dar coisas boas aos seus filhos. Quanto mais o Pai, que está no céu, dará o Espírito Santo aos que lhe pedirem!” (Lucas 11:11-13 BLH)
A jornada do indivíduo em busca daquele de quem tudo se origina pode chegar ao fim – ou ao início – a partir da conversão cristão. Pode. Porque tem muita gente que vai atrás do Pai e encontra apenas… o ego. Não o planeta-vivo, o pai do herói Quill. O próprio ego.
Isso não é difícil de acontecer. Em comunidades com carência de voluntários e com um belo palco à disposição, qualquer ser humano pode se render à vaidade. Começa com elogios sobre a voz ou o discuro. Talvez sobre um talento musical. Quem sabe, sobre o reconhecimento da caridade e do amor pelos mais pobres. Pais e mães que são muito enaltecidos nas igrejas – mas, dentro de casa, colecionam fracassos. E pronto. Deus perde o lugar, no centro da vida de homens e mulheres, e o ego é quem ganha um altar.
Lembre: “O orgulho leva a pessoa à destruição, e a vaidade faz cair na desgraça.” (Provérbios 16:18 BLH)
Em “Guardiões da Galáxia 2”, a relação de Gamora com a irmã, Nebulosa, ganha mais profundidade. Logo aprendemos mais sobre a família das duas – e a explicação para o conflito entre elas.
Sem mais palavras, são duas irmãs que querem se matar. Como acontece em qualquer comunidade cristã. Seja por falta de compreensão, por falta de espiritualidade ou mesmo por falta de educação. Às vezes, pode ser uma competição até por visibilidade. Como alguém já disse, banco de igreja pode ter mais ódio que octógono de MMA. E não é só entre mulheres, não.
O ódio entre irmãos tem dividido denominações e destruído laços. E Deus, definitivamente, não age por meio do ódio, de brigas, de divisão de comunidades e de corações amargurados.
“Se alguém diz: Eu amo a Deus, e odeia a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (I João 4:20)
E tem gente que acha que ama a Deus demais, com todas as forças.
Lembra o baixinho Rocket, aquele indivíduo que não mede esforços para qualquer realização. Tem talentos de sobra – e quando não tem, continua se esforçando para alcançar um objetivo. É capaz de fazer as maiores loucuras para que um projeto dê certo, em benefício de seus irmãos, de sua família. O que muita gente não entende é que uma pessoa com excesso de atividade pode usar essa ocupação excessiva para esconder um coração carente de atenção e amor.
As comunidades cristãs estão cheias de servos absolutamente eficientes. E tão absolutamente abandonados e esquecidos. Voluntários que nunca recebem uma palavra de incentivo, um momento de atenção especial. Ou um abraço sequer.
“Os sacrifícios para Deus são o espírito quebrantado; e um coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus.” (Salmos 51:17)
Coração quebrantado é uma ilustração, correto? Você entende, certo?
O Drax, não.
Desde o primeiro filme ficou claro que ele tem dificuldade para compreender uma metáfora, uma comparação. Para ele, as palavras tem o real sentido, não existe uma interpretação ou avaliação do contexto. Quem pensa assim tem muita dificuldade de viver em sociedade, porque leva tudo ‘a ferro e fogo’, sem tolerância. Como se o mundo fosse apenas preto e branco, sem meio-tom algum. O Drax faz lembrar muita gente que tem dificuldade de interpretar o que a Bíblia traz, considerando qualquer versículo ao ‘pé da letra’.
Só pra exemplificar o perigo disso, está lá em Levítico 19:27: “Não cortareis o cabelo em redondo, nem raspareis a barba pelos lados.” E os carecas, justamente como o Drax, coitados?
Quem não entende a importância de buscar esclarecimento e interpretar o que Deus nos ensina, por meio da sua palavra, se torna ‘escravo da lei’.
“Porém agora estamos livres da lei porque já morremos para aquilo que nos mantinha prisioneiros. Por isso somos livres para servir a Deus não da maneira antiga, obedecendo à lei escrita, mas da maneira nova, obedecendo ao Espírito de Deus.” (Romanos 7:6 BLH)
E o Groot?
O Groot já apareceu como uma árvore milenar, velha e muito vivida, no primeiro filme dos Guardiões. Já no segundo, divertiu o público como um bebê esperto e cheio de personalidade. O velho e o novo. O idoso e a criança. Duas faixas etárias com as quais não é fácil conviver. O idoso porque demanda cuidados, atenção especial, adaptações de locomoção e acesso. Também exige paciência – porque nem sempres os vovôs e as vovós aceitam mudanças e novidades. Parece que não cansam de falar que no tempo deles tudo era muito melhor, os cultos eram mais espirituais, os líderes eram mais sério, as músicas eram mais profundas, os jovens eram mais comportados… Um discurso que sempre se repete, de forma igual. Como se falassem: “I’m Groot! I’m Groot! I’m Groot!”.
E as crianças? Também é difícil conviver com elas, que não ficam quietas, não conseguem prestar atenção no que está acontecendo, muito menos obedecer aos adultos. Querem novidade a todo momento – como se a Igreja fosse uma colônia de férias, um momento de lazer qualquer! Querem jogar no celular no meio do culto, ou ir ao banheiro toda hora. Nada parece suficiente para acalmá-las dentro de um templo. Parece que funcionam em um universo paralelo, próprio, onde só pensam naquilo que pode trazer diversão. Ninguém consegue entendê-las! “I’m Groot! I’m Groot! I’m Groot!”.
“Louvem o Senhor, moços e moças, velhos e crianças! Que todos louvem a Deus, o Senhor!” (Salmo 148:12 BLH)
Quando a gente reclama de uma criança e velho se esquece de que já fomos e seremos assim, todos nós.
Difícil conviver num grupo semelhante a esse…
Mas é dessa forma que funcionam as famílias. Pessoas que aprendem a se relacionar, apesar dos defeitos de uns e outros. E não seria diferente dentro das comunidades cristãs. Afinal, a missão dada por Jesus é que a “luz brilhe” onde existe escuridão – “Ninguém acende uma lamparina para colocá-la debaixo de um cesto. Pelo contrário, ela é colocada no lugar próprio para que ilumine todos os que estão na casa.” (Mateus 5:15 BLH)
Numa igreja sem conflitos aparentes, alguma coisa pode estar errada. Nem entre os discípulos de Jesus foi assim! Num grupo pequeno havia competição, ciúmes, avareza, impaciência, intolerância, raiva, traição… Mas foi nesse meio que Cristo circulou, influenciando cada homem e mulher.
O desafio é descobrir quais características de nossa personalidade e quais comportamentos nossos prejudicam as pessoas ao redor, os relacionamento e a expansão de um reino de paz, alegria e amor. E trabalhar para aprimorar – por que não, santificar – nossa vida.
Dá pra ir longe, muito longe assim. Até o outro lado da galáxia.