ENTREVISTA
Por Fernando Passarelli
Quando Fernando Gonsales venceu um concurso de quadrinhos do jornal “Folha de S. Paulo”, em 1986, o mercado de pet-shops não era tão grande no Brasil. Ainda bem, senão o veterinário e biólogo teria um dilema muito maior a resolver: trocar uma promissora carreira cuidando de animais de verdade por outra, criando animais de desenho… sim ou não? Foi uma decisão acertada – pelo menos para os leitores de quadrinhos, que ganharam um universo de personagens e piadas. Muito disso, é verdade, falando do mundo animal. Por isso as tiras dele são presença constante nas provas de vestibular – principalmente na área de biológicas. Na entrevista a seguir ele fala porque nunca publicou nada a respeito de política ou de qualquer temática social. Confira:
DEUS NO GIBI – Nesse tempo todo desenhando as tiras, o que mudou no seu processo criativo?
FERNANDO GONSALES – Ainda é um pouco misterioso para mim o ato de bolar tiras. Não existe nenhum método milagroso ou infalível. Mas com o tempo a gente pega algumas mancadas. Acho que, no final, o processo é um pouco mais estável que no começo.
DEUS NO GIBI –Essa “explosão” recente do mercado de quadrinhos brasileiro, com novas editoras e autores, tem ajudado os profissionais mais antigos, como você?
FERNANDO GONSALES – Certamente uma onda de quadrinhos é sempre bom para todos os autores. Apesar de haver uma certa concorrência, no fim abre mais espaço para todo mundo.
DEUS NO GIBI – O seu conhecimento como veterinário ajuda muito na hora de criar as piadas para as tiras de animais? Ou o conhecimento como desenhista e leitor de quadrinhos é mais útil?
FERNANDO GONSALES – Ser veterinário ajuda nos textos, mas para escrever sobre animais não precisa tanto. Basta gostar do assunto. Certamente a prática como desenhista ajudou mais.
DEUS NO GIBI – Você tem contato com professores ou educadores, que falam sobre o uso de suas histórias em sala de aula?
FERNANDO GONSALES – Muitas vezes me falam disso. Acho bem legal ver meu trabalho ser utilizado desta maneira
DEUS NO GIBI – Muitas das suas tiras tem uma temática bíblica, envolvem personagens e passagens conhecidas das escrituras. Você tem alguma formação cristã ?
FERNANDO GONSALES – Bem, nasci em uma família católica, então conheço alguma coisa sobre as escrituras. Mas mesmo quem não é cristão acaba conhecendo também. Atualmente não sigo esta linha religiosa.
DEUS NO GIBI – Você já teve problemas com algum leitor que não tenha gostado de alguma dessas tiras “religiosas”?
FERNANDO GONSALES – Nunca tive conhecimento disso. Espero que todos entendam o caráter humorístico da abordagem destes temas.
DEUS NO GIBI – Apesar de tanto tempo no mercado de tiras, você não publicou nenhum trabalho com cunho social. Gostaria de fazer uma página editorial, por exemplo, tratando de política?
FERNANDO GONSALES – Realmente não tenho vontade de abordar esses temas. Nem sei exatamente porquê. As poucas vezes que me aventurei por esse caminho,verifiquei que não me saio muito bem.
DEUS NO GIBI – Que conselho daria para quem ainda é amador e tem o desejo de se profissionalizar desenhando tiras e quadrinhos?
FERNANDO GONSALES – Em primeiro lugar, desenhem e escrevam pelo prazer de fazer isso, sem pensar em profissionalização. Com o tempo e a quantidade de trabalho feito as coisas acabam por acontecer. Mas se for desenhar só pensando em publicar, a coisa pode ser decepcionante, pois o mercado é um pouco limitado. A Internet hoje é um bom meio de ir mostrando as coisas antes de se profissionalizar. E depois também.
DEUS NO GIBI – Por último, se pudesse ter um super-poder, desses que os heróis dos quadrinhos possuem, qual escolheria?
FERNANDO GONSALES – Apenas voar seria ótimo. Se fosse com invisibilidade, seria melhor ainda.
Para conhecer mais a obra de Fernando Gonsales visite:
http://www2.uol.com.br/niquel/
Outubro de 2012